Quem nasceu depois da década de 80 dificilmente saberá o que é reunir toda a família para preparar o porco que por ela será dividido para o consumo. Se for alguém crescido em centros urbanos, muito menos.
A foto abaixo é de uma família em Açores, Portugal, reunidas para preparar o porco, fonte de proteína animal barata que servirá por meses como alimento fundamental nos lares. Até pouco tempo atrás não existia microondas, refrigeradores elétricos (geladeira ou freezer) em muitas regiões do Brasil. A luz elétrica não é tão antiga como alguns possam imaginar. Para se ter uma idéia, a irmã de meu trisavô era casada com um coronel do exército brasileiro no período do Império. A lâmpada ainda não havia substituído a lamparina a óleo.
Thomas Edison criou a lâmpada e exibiu sua criação nos Estados Unidos. O evento chamou a atenção de D. Pedro II, um grande entusiasta dos avanços científicos, que logo entrou em contato com o inventor americano para trazer a novidade ao Brasil. A energia elétrica chegou ao Brasil em 1879, mesmo ano da invenção da lâmpada. Na ocasião, D. Pedro II concedeu a Thomas Edison a permissão de implementar seus equipamentos no país para fins de iluminação pública. Quase 150 anos depois o Brasil está entre os maiores produtores de energia elétrica do mundo.
Minha família materna provém de Itaperuna, Campos dos Goytacazes, Cantagalo e Nova Friburgo, cidades do interior do estado do Rio de Janeiro. E apenas quatro anos depois da chegada da eletricidade, em 1883, D. Pedro II inaugurou em Campos dos Goytacazes, no norte do estado do Rio, o primeiro serviço público de iluminação pública do Brasil e da América do Sul. Nessa época, a eletricidade era gerada pelo vapor das caldeiras à lenha, ou por rodas d'água nas casas que gozavam do luxo de ter um riacho ou rio perto de casa para ouvir o rádio.
Para conservar os alimentos era necessário usar sal ou a gordura animal, normalmente a do porquinho que fora alimentado o ano inteiro para ser comido em ambiente festivo e familiar. Não existia WhatsApp para separar as consciências e os corações de quem estava na mesma sala, na varanda ou na cozinha. O preparativo para esse momento era feito todo ele em um ambiente fraternal, irrigado de muita música e alegria.
Longe de propor o abandono das tecnologias, pergunto-me dia e noite quão cruel tem sido o uso da tecnologia para afastar as pessoas. Hoje em dia, até casais enamorados não entreolham-se e ficam cada qual em seu entretenimento pessoal mesmo que ambos estejam na mesa de um restaurante romântico ou na cama antes de dormir.
Sinceramente não sei como solucionar a equação onde não se abandona a tecnologia e mantém-se a ponte entre as pessoas sem que elas fiquem ilhadas no Instagram. Entretanto, é frutuoso em si ao menos meditar sobre isso e buscar estar próximo daqueles que precisamos amar para que o coração seja oxigenado pela caridade fraternal.
Para ter uma idéia de como era esse ambiente simples e acolhedor, assista ao episódio do Globo Rural. É de uma época diferente da nossa. A emissora que hoje mais promove a destruição nos lares ainda possuía um fio de valor, embora perniciosa em outros programas da grade.
Link: https://youtu.be/6GKgBS9xyuw