Vendo a história mais de perto
Escrevendo para meus parentes em um grupo de WhatsApp com o intuito de fazê-los ver a linha da história com mais familiaridade, apontei que Wolfgang Amadeus Mozart, nascido em 27 de janeiro de 1756, na cidade Salzburgo, Áustria, era contemporâneo de nossos ancestrais Denis Curty, Barbe Beckler, Claude De Jacques Folly, François-Joseph Robadey, Pierre Baudevin, Jacques-Etienne Bon, Jean-François Pignolet etc. O braço português da família, da mesma época de Mozart, era Manuel Vaz da Costa, Antonio Coelho Toste, Sebastião Gonçalves Pires, e por aí vai. Mas estes, de tão pobrezinhos, quase nada se ouvia do grande compositor austríaco, coisa pouca conhecida na distante ilha dos Açores, em Portugal. Isso ajuda a ampliar o horizonte de consciência e aguça o senso de temporalidade em nossa imaginação.
Na mesma época em que Mozart faleceu, meus ancestrais suíços estavam saindo de sua pátria e indo para o Brasil. Durante a vigem, muitos morreram no meio do oceano Atlântico sem sequer um digno funeral, alguns com meses de nascido. O índice de mortos desses navios era igual ou maior do que os dos navios negreiros. A pobreza dessa gente, somada ao pavor criado por Napoleão Bonaparte, era grande. A terra manchada de sangue levou a muitos deixarem o país que amavam para desbravar numa terra nova da qual nada sabiam senão testemunhos, estes muitas vezes falsos pois tinham função publicitária para se aproveitar financeiramente dessa pobre gente e lotar os navios.
Foi a coragem dessa gente que me deu um país, uma terra, um nome, uma família, um lar e irmãos. Não de modo genérico e abstrato, mas real e concreto. Eles são meus tetravós, pentavós, hexavós, heptavós... São realmente meus ancestrais! A coragem parece ser parente próxima da lágrima, mas como todo família precisa conviver com o seu lado bom e ruim, ela precisa ir adiante, mesmo convivendo com a dor. Como fruto direto desses homens e dessas mulheres, posso assegurar que sou grato e só posso honrá-los. Se os tempos não são bons, sei que devo permanecer firme para que um dia um menino ou uma menina entre meus descendentes possam olhar para traz e agradecer por eu não ter cedido ao tirano Alexandre de Moraes a quem desprezo com toda a minha alma para orgulho de minha posteridade.
Olhar com atenção para os nossos ancestrais, permanecer forte nos dias de hoje e pensar em nossa posteridade é crucial para não sermos marionetes dos tiranos, pois estes não mudam muito sua maneira de agir. O exemplo do passado é também exemplo hoje e será amanhã. Não quero ser motivo de vergonha para ninguém, nem daqui a mil anos.