A falsa culpabilidade de Portugal nas mazelas políticas do Brasil
Para muitos, a centralização política brasileira é efeito direto de nossos ancestrais portugueses, mas como bem aponta o Prof. Olavo de Carvalho, nenhuma nação é um agente histórico. Toda ação é realizada por um agente e este, nesse caso, não é a dinastia portuguesa ou o país de Portugal, mas o marquês de Pombal, maçom e pseudo-católico odioso da escolástica. É ele quem obtém ascensão na corte portuguesa de tanto proteger e bajular d. José I, após investir agressivamente em uma cruzada contra a família Távora e os jesuítas que saíram em defesa dela. Tudo isso antes da revolução francesa e até mesmo antes da americana, diga-se de passagem.
A empreitada de Pombal se dá na busca dos autores do atentado à vida do rei. O suposto autor do crime contra a vida do rei teria dito que estava obedecendo à ordens da família Távora, segunda família mais poderosa de Portugal - ficando apenas atrás da família real. A coisa fica obscura e assim permanece, pois tudo indica que era a esposa do rei que desejara matar a amante, não o marido, e sim, ela teria sido a mandante do acidental e fracassado regicídio. De qualquer forma, era oportuno para Sebastião José de Carvalho e Melo, que ainda não era marquês de Pombal, assassinar a reputação dos Távora e colocar sua própria família no centro do poder político da corte.
Mesmo sendo condenado por corrupção e abuso de poder, poucos o vêem como a grande pedra no sapato no desenvolvimento cultural e político do Brasil. Pois foi ele quem aboliu a escravidão dos índios, embora mantivesse a dos negros. É ele quem retira a capital da Bahia, levando-a para o Rio de Janeiro para assim espoliar o ouro de Minas Gerais e reconstruir Lisboa, levada às cinzas após o terrível terremoto de 1755. Parece um déjà vu, não é criticado como merece pois junto ao roubo acumula a responsabilidade por ter melhorado a infraestrutura de Portugal e Brasil. É o famoso rouba-mas-faz.
Foi Pombal quem aboliu o ensino da escolástica das universidades católicas portuguesas e alterando-lhes o currículo. Com a ajuda de seu seu irmão, o cardeal Paulo António de Carvalho e Mendonça, persegue os próprios críticos, sobretudo jesuítas, que bem antes dele se tornar o homem mais poderoso de Portugal, já o apontavam como um perigo grave para a vida de todos por causa de suas ideias iluministas.
Pombal logra a condenação que levou à decapitação dos membros da família Távora e também dos jesuítas, entre eles, Pe. Gabriel Malagrida, o que se transforma em um efeito cascata que desaguará na supressão dos jesuítas em Roma. Não é pouca coisa que daí decorre, visto que historiadores renomados compreendem ter sido essa perseguição o impedimento inicial mais marcante que retiraria para sempre a influência jesuítica em todo o mundo católico. E de fato "se poderia dizer que entre 1570 e 1760, o mundo católico se se tornara um grande colégio jesuítico", como afirma William V. Bangert em "Exílio, Supressão e Restauração" ao narrar a história da Companhia de Jesus.
Temporalmente, foi só depois dessas decapitações promovidas por Pombal que nasceram as revoluções americanas, frances etc. Se há alguma relação causal entre a promoção das revoluções e as reformas sanguinárias de Pombal, não é o que mais me assusta. O fato é que a ausência da Companhia de Jesus foi indiscutivelmente o fator mais importante para a ascensão de movimentos políticos que usavam a guilhotina como forma de arco-íris em defesa do povo, enquanto destruíam o patrimônio cultural, político e espiritual de séculos.