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Um corpo sem alma tem data marcada para começar a feder. É o que também ocorre nos grupos humanos. Qualquer grupo que adota características estéticas de um corpo sadio mas ignora o que lhe confere vida, passa pelo mesmo processo de decomposição que a de um defunto.
No corpo humano o processo ocorre em um período de 12 a 14 horas após a morte. É quando as bactérias começam a se alimentar das proteínas que estão no corpo do defunto. Na sequência são excretados gases como metano, por exemplo, causas do insuportável odor.
Ora, não é exatamente assim que ocorre no agrupamento humano que perdeu o seu valor agregador vital? O que era causa da criação de um grupo passa a não existir entre os membros e as “bactérias” entram em campo para triturar o que sobrou de “proteína” no grupo mesmo.
Se proteínas entendem-se por aquelas macromoléculas orgânicas que são constituídas por unidades menores chamadas de aminoácidos, como não compreender que na analogia com o corpo social são as famílias essas macromoléculas constituídas por unidades menores de indivíduos, cuja organicidade é o que diferencia o bom ou o mau uso da burocracia do Estado? Se nem todos os aminoácidos são produzidos pelo organismo do corpo, sendo necessária uma boa alimentação para fornecer aqueles que não são sintetizados e necessários para as funções biológicas vitais, é evidente que a troca de experiências entre os homens é fundamental para a vida em sociedade. Se o Estado interfere demasiadamente nesse processo o corpo definha e morre.
Para que a analogia fique clara é preciso compreender que alma é o princípio intrínseco de movimento, ou seja, é o que faz a matéria se mover. Sem a alma, o corpo não serve senão para alimentar as bactérias.
A burocracia não passa de um aspecto material onde sem a alma da moralidade, torna-se um teatro de mau gosto, no mínimo; quando não é ferramenta de opressão de um ente invisível e assustador chamado: Estado de Direito.
Para evitar na sociedade o forte odor característico da putrefação, usa-se todo tipo de subterfúgio que maquie o defunto e evite a saída dos gases provocada pelo consumo das proteínas, a saber, as famílias e seus indivíduos. A burocracia sem alma faz isso o tempo todo ao consumir, como bactéria que é, as macromoléculas orgânicas da sociedade: a família.
No fundo, os burocratas do estado moderno tornaram-se especialistas em velório ou cremação, evitando que os membros desse corpo possam reagir a tempo e terminem como um prato macabro a ser por eles consumido.
Não é possível conviver mais com essa funerária profissional e criminosa tratando-a como se hospital fosse. Não estamos diante de médicos e tampouco estamos em um hospital, mas em uma guerra onde famílias são apenas elementos usados como fonte de alimentação desse monstro chamado Estado Moderno vestido de uma burocracia sem alma.