Disponibilizo aqui um PDF com a imagem da carta de Manoel da Nóbrega, primeiro provincial dos jesuítas no Brasil. Ele nasceu em Portugal no ano de 1517 e faleceu no Rio de Janeiro em 1570. Junto com José de Anchieta, ele foi muito influente no início da história do Brasil e participou da fundação de várias cidades, como Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, além de muitos colégios e seminários jesuítas.
O sacerdote jesuíta nasceu a 18 de outubro de 1517, em Sanfins do Douro, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal, no seio de uma importante família; seu pai era Baltasar da Nóbrega, um proeminente juiz. Manuel da Nóbrega estudou humanidades no Porto e em Salamanca, Espanha e na Universidade de Coimbra, onde obteve o bacharelato em direito canônico e filosofia em 1541. Entrou no noviciado jesuíta em 1544 e, após a ordenação, desempenhou funções pastorais nas regiões de Entre-Douro-e-Minho e Beira.
Em 1549, ingressou na frota naval do primeiro governador-geral português Tomé de Sousa (1502-1579), a pedido do rei João III de Portugal à Companhia de Jesus para iniciar o trabalho missionário de conversão dos ameríndios pagãos. O objetivo era de construir igrejas e seminários religiosos para educar os colonos. A importância da educação era primaz na mentalidade dos que queriam tirar da barbárie aqueles que queriam levar à civilização. Algo quase inacreditável hoje em dia.
Nóbrega chegou à capitania da Bahia em 29 de março de 1549, acompanhado de outros cinco jesuítas. As primeiras ações do governador-geral foram fundar a capital colonial de Salvador (O Salvador, em português) e celebrar sua primeira missa em 1549.
Nóbrega e seus colegas tentaram cumprir sua missão, mas enfrentaram muitas dificuldades porque os colonos maltratavam e tentavam escravizar os índios. Cedo se envolveu ferozmente na defesa dos índios, o que levou a graves confrontos com habitantes e autoridades da nova colónia, incluindo o primeiro Governador-Geral e o que lhe sucedeu, Duarte da Costa.
Para ganhar autoridade na luta contra os colonos, Nóbrega pediu ao Rei que estabelecesse um episcopado no Brasil, que foi concedido em 25 de fevereiro de 1551. O primeiro Bispo do Brasil, Dom Pedro Fernandes Sardinha, assumiu o cargo em 22 de junho de 1552. Nessa época, Nóbrega já havia criado o Colégio Jesuíta de Salvador. Ele foi então nomeado o primeiro Provincial da Companhia de Jesus no Novo Mundo, cargo que ocupou até 1559. No entanto, Dom Sardinha foi morto e comido por índios hostis após um naufrágio.
Sentindo as dificuldades de converter índios adultos ao cristianismo, Nóbrega determinou que os esforços dos jesuítas se concentrassem no ensino das crianças, que eram mais maleáveis. Os jesuítas começaram a criar escolas primárias para ensino de português e latim, alfabetização básica e religião. Os jesuítas descobriram que o canto era uma forma muito eficaz de chamar a atenção dos alunos, e Nóbrega foi um dos pioneiros no uso da música na educação no Brasil. Para ajudar na evangelização das crianças, Nóbrega teve a ideia de trazer sete crianças órfãs para o Brasil e fazê-las aprender o tupi, a língua dos índios, para que fossem bilíngues e atuassem como tradutores. As crianças costumavam ir a pé com os jesuítas para lugares distantes e eram protegidas e queridas pelos índios. Várias das crianças também se tornaram padres jesuítas.
Em 1552, Nóbrega acompanhou novamente Tomé de Sousa à capitania de São Vicente, no atual estado de São Paulo. Foi ali, em 1553, que a ele se juntou outro grupo de jesuítas, que chegara com José de Anchieta, então jovem noviço, que viajava com Duarte da Costa, o segundo governador-geral enviado pela Coroa. Nóbrega determinou como nova missão do pequeno grupo de missionários fundar aldeias (aldeamentos) no planalto logo acima da costa para melhor desenvolver seu trabalho de catequese e educação dos índios. Assim, em 25 de janeiro de 1554, Nóbrega e Anchieta celebraram a primeira missa no novo e modesto Colégio Jesuíta de São Paulo dos Campos de Piratininga, em homenagem ao dia da conversão de São Paulo ao cristianismo. O minúsculo povoado em torno desse colégio jesuíta viria a se tornar uma das maiores metrópoles do mundo, São Paulo.
Nóbrega e seus homens começaram a catequizar e batizar os índios ao chegarem ao Brasil. Um dos primeiros encontros com membros de grupos indígenas foi quando Nóbrega e seus homens tentaram impedir os preparativos para uma festa canibal e os índios se levantaram contra os cristãos. A milícia do governador ajudou a defender os missionários contra a revolta indígena.
Ocupados na construção de capelas e escolas, os missionários orgulhavam-se do alto índice de conversão dos nativos. Os jesuítas começaram a ensinar orações aos nativos, além de ensiná-los a escrever e cantar. Segundo relato de Nóbrega, 500 indígenas haviam sido batizados nos primeiros cinco meses da chegada dos jesuítas, e muitos mais eram catecúmenos.
As colônias portuguesas no Brasil, como muitas outras colônias nas Américas, tinham problemas de escravidão e concubinato comuns entre os novos colonos. Nóbrega estava preocupado com o fato de os colonos portugueses não serem bons exemplos. Ele não conseguiu limitar a escravidão entre os portugueses, então escolheu a separação. Ele se moveu em direção à separação física dos nativos e dos portugueses para limitar seu contato com ambientes corruptos e se concentrou em reduzir a dependência dos jesuítas do apoio da coroa portuguesa.
Animado com o fato de muitos nativos terem se convertido ao cristianismo, apesar de serem maltratados por alguns europeus, Nóbrega levou adiante seu trabalho. A colônia brasileira de engenhos de açúcar, por exemplo, foi fundada com o uso extensivo de mão de obra indígena. Embora esta fase do desenvolvimento da economia brasileira fosse temporária, os portugueses começaram a usar mão-de-obra escrava africana, o que teve efeitos duradouros sobre o moral dos nativos. Os portugueses criaram uma sociedade em que os nativos deviam viver de acordo com as regras portuguesas e conformar-se com novos modos de comportamento, abandonando o canibalismo e transformando completamente a vida dos índios para uma vida cristã.
Há muito mais para escrever sobre esse grande homem. Isso deixarei para mais adiante. A estátua do padre Manoel da Nóbrega em Salvador está ladeada de lixo e abandonada, o que explica bem o motivo do Brasil está igualmente em meio ao lixo e abandonado. Por ora, deixo para vocês essa carta com a caligrafia do próprio Manoel da Nóbrega. Bom proveito.