Em mais de quatro horas de depoimento à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, o ministro comunista que está na pasta da Justiça, Flávio Dino, foi questionado por parlamentares e membros da base do regime. Dino foi irônico em quase todas as respostas e não se sentiu intimidado um segundo sequer.
Ensaboado, Dino sabia como lidar com a situação por causa do amadorismo das perguntas. Embora o deputado Carlos Jordy (PL-RJ) gritou que seria impossível entrar na favela da Maré sem o apoio do tráfico e a deputada Carol de Toni (PL-SC) também tenha se exaltado - não sem razão - que ele sabia previamente dos atos de vandalismo no dia 8 de janeiro, nada ou quase nada se aproveitou dessa visita do comunista ao parlamento.
Em uma resposta ao deputado André Fernandes ao ser erroneamente acusado de ser alvo de mais de 200 processos na Justiça, Dino respondeu:
— Vou contar aos meus alunos de direito, como piada, que o senhor fez a pesquisa no JusBrasil. Fazer esta busca por lá se insere no mesmo universo mental de quem acredita na Terra plana.
O momento mais baixo na comissão foi quando o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) requisitou a palavra e pediu “maturidade” dos outros parlamentares. No microfone da câmara, uma voz até então desconhecida gritou: “Deixa o chupetinha falar” - hoje, o petista André Janones confessou ter sido dele o grito.
Nikolas pediu para que o presidente da CCJ, Rui Falcão (PT-SP) identificasse o autor do grito e encaminhasse o caso ao Conselho de Ética da Casa. Em outro momento, ao ouvir de Dino um pedido de respeito, Nikolas usou o microfone para dizer:
— Os petistas estão chamando Bolsonaro de genocida. Isto não é falta de respeito? O senhor está de sacanagem?
A primeira tentativa foi assim?
Dino foi o primeiro integrante do primeiro escalão do governo a prestar contas ao Congresso nessa legislatura. Era esperado que os deputados pelo menos tivessem uma reunião prévia para organizar as perguntas e assim se ajudassem mutualmente, certo? Errado. O estrelismo para publicar quem lacrou mais e ganhar seguidores e visualizações é o mais importante, pelo visto.
Em contato com alguns deputados, ouvi sempre a mesma coisa, ou seja, que eles quase não têm tempo para se organizar com reuniões periódicas, que a correria do parlamento e dos pepinos concernentes ao estado que os elegeram impedem que estejam mais unidos. Se assim for, que corram atrás das curtidas e número de visualizações mesmo. Será cada um por si, ou melhor, já está assim.
Faça uma lista dos deputados que você considera os mais preparados para estar no congresso e compare as redes sociais deles com os mais engraçados e lacradores. É óbvio que os deputados aprenderam a usar as redes sociais como um jornal diário, e isso não é ruim em si. É ótimo que tenham as redes sociais para mostrar os debates mais relevantes, mas trabalhar as redes sociais para aumentar o próprio alcance não é função parlamentar. Há notícias que até os jornalistas ficam sabendo primeiro por meio das publicações dos parlamentares.
Um parlamentar é eleito para ocupar o legislativo e sua principal função é representar seus eleitores e trabalhar em nome deles. Entre suas atividades estão: discutir e aprovar leis, fiscalizar o trabalho do governo e atuar em questões de interesse público, participar de comissões parlamentares, discutir e analisar projetos de lei específicos e realizar investigações sobre questões de interesse público.
Em outras palavras, o que os deputados fizeram ontem foi uma das atividades mais essenciais do legislador. Nenhum eleitor poderia fazer aquilo! Nenhum jornalista, nenhum ativista, nenhum militante… Só os parlamentares eleitos poderiam. Meu DEUS…
Se a ficha não caiu para os deputados, que entendam agora que a população precisa de parlamentares, não um político jornaleiro. Os opositores dos comunistas não têm o luxo de ir para uma CCJ sem preparo, sem perguntas repetitivas. O interrogado precisa ficar desconfortável, sem chão, sem palavras. Pelo amor de meus filhinhos, era o idiota do Flávio Dino, minha gente!
De fato, ninguém pediu minha opinião. Entretanto, não estou dando uma opinião, mas ensinando. Escute quem quiser. É pensando no Brasil que preciso falar isso. Abandonem essa sanha de dar notícias, ganhar curtidas e seguidores.