“Uma guerra nuclear é inevitável”, diz propagandista russo - Solovyov, o principal propagandista russo, no programa de opinião de maior audiência da TV estatal do país
Vladimir Solovyov, um conhecido apresentador e fervoroso apoiador do presidente russo Vladimir Putin, pediu a Moscou que ameace diretamente os países que apoiam a Ucrânia com um ataque nuclear, afirmando no programa de opinião de maior audiência da TV estatal do país:
“Acredito que uma guerra nuclear é inevitável... Acho que devemos voltar a realizar testes nucleares para mostrar o poder dessas bombas... E devemos fazer um ultimato à OTAN apontando as nossas bombas nucleares contra aqueles governos... contra os países que apoiam o nazismo... E fazer um ultimato, e se não ouvirem, então não haverá mais Londres, não haverá mais Berlim, não haverá mais Paris, não haverá mais Washington”.
A Rússia tem limitações legais em relação ao uso de armas nucleares como primeiro ataque. Em 2020, Putin assinou um decreto presidencial que permite à Rússia enviar armas nucleares se “dados confiáveis” mostrarem “o lançamento de mísseis balísticos atacando o território da Federação Russa e/ou seus aliados”. O documento também afirma que a Rússia pode justificar o uso de armas nucleares se houver evidências de armas nucleares ou outras armas de destruição em massa sendo usadas contra a Rússia, bem como se um país atacar “locais governamentais ou militares críticos” ou se a “própria existência” da Rússia estiver “em perigo”.
Putin anunciou em fevereiro que estava suspendendo a participação da Rússia no tratado New START, um pacto de armas nucleares com os Estados Unidos que limitava o número de ogivas. No entanto, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse no final de abril que seu país suspendeu temporariamente os testes de armas nucleares. O próprio Putin também afirmou em outubro que não tem intenções de usar armas nucleares na Ucrânia.
Mas Solovyov acredita que Putin deveria adotar uma postura mais dura, de acordo com comentários recentes feitos em seu programa de rádio Polniy Kontakt (Contato Total) e compartilhados online por Anton Gerashchenko, conselheiro do Ministério de Assuntos Internos da Ucrânia.
“Acredito firmemente que a guerra nuclear é inevitável. Estou profundamente convencido disso”, disse Solovyov no vídeo que foi traduzido e postado no Twitter por Gerashchenko.
“Acredito que devemos sair do tratado de moratória sobre testes de armas nucleares em todos os ambientes. Precisamos testar armas nucleares para que o Ocidente possa ver que elas existem e perceber o quão poderosas são”, acrescentou Solovyov.
Solovyov, identificado como um propagandista do Kremlin pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, também afirmou que Moscou deveria “dar um ultimato aos países da OTAN, visando nossas forças nucleares estratégicas contra os quartéis-generais governamentais” dos países com capacidades nucleares e dos países que apoiam a Ucrânia.
De acordo com a tradução de Gerashchenko, Solovyov então disse que se esses países não respondessem ao “ultimato” da Rússia, isso significaria que “não haverá mais Londres, Berlim, Paris ou Washington, D.C. Essa é minha opinião pessoal”.
Jason Jay Smart, assessor político em questões pós-soviéticas e políticas internacionais, disse ao site americano Newsweek que os comentários de Solovyov podem não ter sido feitos para pressionar Putin, mas sim como parte do uso da mídia pelo Kremlin.
“Solovyov desempenha diferentes papéis como o bobo da corte favorito do Kremlin, incluindo a adoção de posições mais radicais para que qualquer ação ‘mais moderada’ que o Kremlin eventualmente tome pareça ‘razoável’”, disse Smart.
Jason Smart concluiu dizendo que “no caso das armas nucleares, Solovyov sabe que não há motivo para acreditar que a Rússia esteja atualmente caminhando em direção ao seu uso. No entanto, ele reconhece que suas transmissões são frequentemente citadas pela imprensa estrangeira e, assim, nesse caso, Solovyov está fazendo uma demonstração de força em nome do Kremlin”.