Allan dos Santos
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O apogeu da vigarice habita na memória seletiva
Gustavo Corção caiu em profundo esquecimento após uma forte campanha de difamação da esquerda e com complacência dos militares
June 09, 2023

Gustavo Corção caiu em profundo esquecimento após uma forte campanha de difamação da esquerda e com complacência dos militares. O motivo é simples. Após trabalhar na Companhia Telefônica Brasileira (CTB), onde teve estreita amizade com Carlos Lacerda, um ex-esquerdista como ele, torna-se um dos responsáveis, juntamente com Alceu Amoroso Lima, por sua conversão ao catolicismo. Corção, a convite de Lacerda, torna-se colaborador no jornal carioca Tribuna da Imprensa, destacando-se como grande polemista. A direita tinha um jornal com dois grandes escritores que conheciam a esquerda melhor que ninguém. Corção lança, em 1950, o romance Lições de abismo, premiado pela ONU para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em 1955, sendo traduzido para vários idiomas. O colunista passa, então, a ser um escritor renomado. Como não podiam vencê-lo no debate, os esquerdistas difamaram-no o mais que puderam, a ponto de seu nome não ser tão conhecido assim por essa Nova Direita que quando muito, sabe quem é Enéas Carneiro. Pesquisando sobre Corção nos jornais, passei os olhos no seguinte texto do Estadão publicado em junho do ano passado:

Em sua crônica “E, por toda a semana, o artigo de Corção começou a badalar” (em O Óbvio Ulultante), Nelson Rodrigues relata a perplexidade de um seu amigo, “uma flor das esquerdas”, com certo artigo em que Gustavo Corção tratava ternamente do filho que fora enviado, à época, como representante do Brasil ao Vietnã. O homem estava perplexo porque “imaginava que, se o Corção passasse a mão pela face, havia de sentir a própria hediondez. Nunca lhe ocorrera que aquela besta-fera pudesse ter costumes, usos, gestos, como outro qualquer”.

É difícil conter o espanto ao ler o texto de Fabrício Tavares de Moraes em ‘Direita e Esquerda na Literatura’ (Parte I) – O processo da História. Moraes – esse nome parece Palpatine para mim – afirma, sem qualquer vergonha, que Nelson Rodrigues chama Corção de “reacionário“, colocando na pena de Nelson o seguinte trecho da obra “Óbvio Ululante”:

Ao que parece, a humanidade do escritor católico e (usando os termos de Nelson) reacionário – seus outros aspectos e cuidados que não as opiniões políticas – jamais havia sido cogitada pelo companheiro de Nelson.

Um leitor desavisado ou que desconhece a obra de Nelson pensa que ele chama Corção de reacionário, visto estar subtraída no texto do Estadão as aspas usadas no livro. Nelson não teria problema em chamar a si mesmo de reacionário, palavrão evitado por muitos até hoje. Pelo contrário, Nelson, em uma clara tentativa de não se deixar abater pelo enquadramento da esquerda, chegou a intitular seu último livro assim. Nas famosas páginas amarelas da VEJA, respondeu ao jornalista que o questionou ser ele um reacionário: “Na televisão, sempre que me lembro, eu digo que sou reacionário, só pra chatear.” Vejamos o que diz o trecho do livro sem os recortes desse tal de Moraes, o qual nunca foi advogado da Transcooper, mas se quisesse pararia no STF facilmente:O assombro do meu amigo tinha a sua lógica. Durante anos, criara, e recriara, dia após dia, uma imagem hedionda do “reacionário”. Ele imaginava que, se o Corção passasse a mão pela face, havia de sentir a própria hediondez. Nunca lhe ocorrera que aquela besta-fera pudesse ter costumes, usos, gestos, como outro qualquer. Impossível um Corção tomando cafezinho ali na esquina; inadmissível uma gargalhada do Corção, ou um assovio do Corção. E aquele Corção pai, simplesmente pai, e simplesmente terno, e simplesmente infeliz, e simplesmente órfão do próprio filho, contrariava toda uma imagem feita de palavrões de insultos, de baba.

O colunista do Estadão, entre um malabarismo e outro, omite o que Nelson conclui sobre Gustavo Corção: tudo em Corção é amor. E o escriba de Lúcifer, o pai da mentira, faz issona empreitada fracassada de apontar para um ambiente saudável entre pessoas, pasmem, de opiniões políticas divergentes. Sou pago para ler mentirosos. Não pude parar a leitura e continuei.

Nos parágrafos seguintes, lamenta que a obra Fome de Knut Hamsun é lembrada em associação à sua exaltação ao nacional-socialismo, ou seja, um novelista nazista. A ingenuidade evidente é a seguinte: ele quer fazer com que um autor e/ou sua obra, valiosa por seu conteúdo estético e até a genuína experiência transmitida pelas palavras, seja, de algum modo, separada de suas idéias políticas. Incapaz de observar o que qualquer pessoa madura percebe ao se deparar com um canalha profissional, não vê – ou não deseja ver – o que certa vez descreveu Olavo de Carvalho que quando um discurso é errado no seu conteúdo explícito mas tem qualidades estéticas, isso mostra que a experiência de fundo que o inspira é genuína, só falsificada no percurso da representação direta à transmutação em “idéias”.

Sei que sou pago para ler essa turminha do mainstream, mas quando menciona Mario Vargas Llosa e descreve que “é desdenhado por parte da esquerda, não sem certa afetação, devido aos seus posicionamentos à direita“, omite que o vencedor do prêmio Nobel de literatura é odiado pela esquerda porque a deixou. Precisei parar a leitura para poupar meu estômago. Mario Vargas Llosa apoiou Fidel e o comunismo na América Latina, como muitos escritores latino-americanos, mas depois acordou. Esquecer-se de algumas coisas ou omitir outras ao narrar fatos é comum aos mortais, mas adulterar autoria de adjetivos, omitir a causa de desafetos e falar tanta bobagem com ares de intelectual não é algo que suporto por mais do que uns minutos.

O artigo de Nelson, utilizado pelo Moraes do Estadão, foi publicado em O Globo em março de 1968. Imaginar o outro como um espelho da própria sordidez não é algo recente e merece recordação. Nelson escreveu:

“Mas, vejam toda a operação psicológica do meu amigo. A princípio, não entendera uma palavra, tão desconhecido, tão estrangeiro, tão alienado parecia aquele Corção vergado, sofrido, perdidamente solitário. Só depois é que, limpando a figura dos palavrões, dos ultrajes, das calúnias, é que o freguês do Antonio’s pôde chegar à luz última e verdadeira do inimigo. Por fim, quem estava infeliz, na volta do Estádio Mário Filho, era o membro da “festiva”. A partir daquele momento, os seus palavrões soariam falsos aos próprios ouvidos. O meu amigo estava comovido e, pior, furioso com a própria comoção. E, então, chegou a minha vez. Não me lembro de tudo o que disse de Gustavo e de Rogério. O esquerdista ouvia só, numa desesperada impotência para negar a imagem que eu ia elaborando de Corção. Expliquei-lhe que tudo em Corção é amor; poucas pessoas conheço com tanta vocação, tanto destino, para o amor. O que parece ódio, nos seus escritos, é ainda amor. Amor que assume a forma das grandes e generosas procelas. Bate forte, muitas vezes. Mas sempre por amor. Está fatalmente ao lado da pessoa e contra a antipessoa. É a luta que o apaixona. Todos os dias, lá vai ele atirar o seu dardo contra as hordas da antipessoa. Eis o que eu repeti para o meu amigo das esquerdas: — o Corção tem um coração atormentado e puro de menino. Quem o sabe ler, percebe em todos os seus escritos o pai de Rogério, sempre o pai de Rogério, querendo salvar milhões de filhos, eternamente.”

A memória seletiva dessa trupe é asquerosa. É o apogeu da vigarice. Nelson estava certo: “Pode parecer uma verdade exagerada, violentada, mas eu diria o seguinte: — no Brasil, a glória está mais no insulto do que no elogio. Se não me entendem, paciência”.

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Abra os olhos
Não seja guiado por tolos

Nenhum país se torna "Terceiro Mundo" por questões financeiras. Qualquer tolo sabe que o Brasil tem muito dinheiro e inúmeras oportunidades. O que faz de um território geográfico um país de Terceiro Mundo são as pessoas que ocupam posições-chave, aqueles que detêm o poder de decisão — desde o padeiro local até os mais altos burocratas.

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Um olhar aprofundado no fundador de um país livre
O último signatário vivo da Declaração de Independência, Charles Carroll assumiu o papel de republicano e revolucionário conservador, representando em sua velhice o fim de um período na história.

O último dos signatários americanos da Declaração de Independência a partir deste mundo, Charles Carroll de Carroll também foi um dos fundadores americanos mais formalmente educados. Vivendo dezessete anos na França e na Inglaterra, Carroll obteve seu B.A. em artes liberais tradicionais e um M.A. em filosofia. Ele também estudou direito civil na França e direito comum na Inglaterra. Imigrantes irlandeses para as colônias americanas inglesas, os Carrolls sofreram nas mãos de intolerantes anticatólicos em Maryland por três gerações. Quando Charles Carroll de Carrollton veio ao mundo, seus pais permaneceram solteiros por causa da lei, e escolheram enviar seu único filho para viver na França. Se o tivessem educado em Maryland, as autoridades tinham a sanção legal para remover crianças — ensinadas de uma “maneira católica” — dos pais e colocá-las permanentemente com protestantes ingleses. Embora a América tenha herdado o título de “terra da liberdade”, suas treze colônias inglesas estavam longe de ser tolerantes. Mais do que qualquer outra colônia, Maryland promoveu a tolerância religiosa por quase três décadas do século XVII, mas um golpe em nome de William e Mary em 1689 encerrou isso por quase um século. Maryland passou de ser uma das sociedades mais tolerantes do mundo para uma das menos tolerantes quase da noite para o dia.

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Ex-diplomata dos EUA acusado de espionar para Cuba por mais de 40 anos
Procurador-Geral alega "uma das infiltrações mais altas e duradouras" do governo dos EUA por um agente estrangeiro

O governo dos EUA acusou um ex-diplomata que serviu no conselho de segurança nacional nos anos 1990 de servir secretamente como agente do governo de Cuba por mais de 40 anos. Victor Manuel Rocha foi preso na sexta-feira, após uma longa investigação de contrainteligência do FBI.

O embaixador dos EUA na Bolívia de 2000 a 2002, Rocha também trabalhou no conselho de segurança nacional de 1994 a 1995. Ele é acusado de cometer vários crimes federais.

"Esta ação expõe uma das infiltrações mais altas e duradouras do governo dos Estados Unidos por um agente estrangeiro", disse o procurador-geral, Merrick Garland. "Alegamos que por mais de 40 anos, Victor Manuel Rocha serviu como agente do governo cubano e buscou e obteve posições dentro do governo dos Estados Unidos que lhe proporcionariam acesso a informações não públicas e a capacidade de afetar a política externa dos EUA".

Rocha, de 73 anos, foi preso em Miami na sexta-feira. A lei federal exige que pessoas que fazem o trabalho político de um governo ou entidade estrangeira dentro dos EUA se registrem no departamento de justiça, que nos últimos anos intensificou sua aplicação criminal de lobby estrangeiro ilícito.

A carreira diplomática de 25 anos de Rocha foi realizada sob administrações democratas e republicanas, grande parte dela na América Latina durante a guerra fria, um período de políticas políticas e militares às vezes pesadas dos EUA.

Suas designações diplomáticas incluíram um período na seção de interesses dos EUA em Cuba, durante um tempo em que os EUA não tinham relações diplomáticas plenas com o governo comunista de Fidel Castro. Nascido na Colômbia, Rocha foi criado em uma casa de classe trabalhadora na cidade de Nova York e obteve diplomas de artes liberais em Yale, Harvard e Georgetown.

O governo alegou que Rocha conseguiu posições no departamento de estado a partir de 1981 para lhe dar acesso a informações não públicas, incluindo informações classificadas, e a capacidade de afetar a política externa dos EUA. Diz que de aproximadamente 2006 a 2012, Rocha foi assessor do comandante do Comando Sul dos EUA, um comando conjunto das forças armadas dos Estados Unidos cuja área de responsabilidade inclui Cuba. Acrescenta que, além de fornecer informações enganosas aos EUA para manter seu segredo, ele frequentemente deixava os EUA para se encontrar com operativos de inteligência cubanos e mentia para obter documentos de viagem. Diz que Rocha aparentemente admitiu ser um espião para um agente disfarçado do FBI em reuniões no ano passado e este ano. O agente, posando como um representante da Direção Geral de Inteligência de Cuba, ouviu Rocha admitir "décadas" de trabalho para Cuba. Rocha supostamente continuou se referindo aos EUA como "o inimigo" e usou o termo "nós" para descrever a si mesmo e a Cuba, elogiou Fidel Castro como o "Comandante" e referiu-se aos seus contatos na inteligência cubana como seus "compañeros" (camaradas), segundo a declaração do governo dos EUA.

Rocha foi o principal diplomata dos EUA na Argentina entre 1997 e 2000, justamente quando um programa de estabilização da moeda de uma década apoiado por Washington estava se desfazendo sob o peso de uma enorme dívida externa e crescimento estagnado, desencadeando uma crise política que veria o país sul-americano passar por cinco presidentes em duas semanas. Em seu próximo posto como embaixador na Bolívia, ele interveio diretamente na corrida presidencial de 2002, advertindo semanas antes da votação que os EUA cortariam a assistência ao país sul-americano em dificuldades se fosse eleger o ex-cultivador de coca Evo Morales.

"Quero lembrar o eleitorado boliviano que, se votarem naqueles que querem que a Bolívia volte a exportar cocaína, isso colocará em sério risco qualquer ajuda futura dos Estados Unidos à Bolívia", disse Rocha em um discurso amplamente interpretado como uma tentativa de sustentar a dominação dos EUA na região. Três anos depois, os bolivianos elegeram Morales de qualquer maneira e o líder esquerdista expulsaria o sucessor de Rocha como chefe da missão diplomática por incitar a "guerra civil". Rocha também serviu na Itália, Honduras, México e República Dominicana, e trabalhou como especialista em América Latina para o conselho de segurança nacional.

Nos últimos anos, ele ocupou vários cargos no setor empresarial: como presidente de uma mina de ouro na República Dominicana e cargos seniores em uma exportadora de carvão da Pensilvânia, uma empresa formada para facilitar fusões na indústria de cannabis, um escritório de advocacia e uma empresa espanhola de relações públicas.

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