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Segundo a edição desta quarta-feira, 14 de junho, do jornal Folha de S.Paulo, o ex-ministro Gonçalves Dias, que chefiava o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo de Lula, foi responsável por ordenar que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) alterasse um relatório oficial enviado ao Congresso Nacional, omitindo os alertas da agência sobre a ameaça de invasão aos prédios dos Três Poderes em Brasília, que de fato ocorreu em 8 de janeiro.
De acordo com o jornal, o relatório enviado à Comissão de Atividades de Controle de Inteligência (CCAI) do Congresso em 20 de janeiro não continha as mensagens enviadas pela Abin ao ex-ministro Dias entre os dias 2 e 8 de janeiro. Essas mensagens foram suprimidas da versão inicial do documento, que foi encaminhada sem os alertas direcionados ao celular de Dias pelo aplicativo de mensagens WhatsApp. No total, 11 alertas enviados ao general foram omitidos no primeiro relatório.
A Folha informa que o ex-ministro ordenou essa omissão ao receber uma minuta do relatório, alegando que a troca de informações não ocorreu por canais oficiais. Ao receber a minuta, Dias determinou que o relatório enviado ao Congresso contivesse apenas as informações distribuídas em grupos de WhatsApp, enquanto a planilha completa permaneceu nos arquivos da agência de inteligência.
Essa decisão estava sob a responsabilidade do general, uma vez que, de acordo com a legislação que estabelece o Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), apenas o chefe do GSI pode fornecer documentos sobre as atividades e assuntos de inteligência produzidos pela Abin às autoridades.
Gonçalves Dias, um antigo aliado de Lula que trabalhou na segurança do ex-presidente durante seus dois primeiros mandatos e na campanha de 2022, pediu demissão do GSI em 19 de abril. Isso ocorreu depois que imagens obtidas pela CNN, anteriormente sob sigilo governamental, revelaram que ele estava dentro do Palácio do Planalto e interagiu com os vândalos que vandalizaram o prédio.
No momento em que Dias deu a ordem, a Abin era dirigida pelo oficial de inteligência Saulo Moura da Cunha. No entanto, em março, Cunha deixou o cargo e passou a ocupar uma função no GSI sob o comando de Dias. Recentemente, ele solicitou exoneração em 1º de junho.
O segundo relatório, contendo os 11 alertas destinados ao ex-ministro, só chegou ao Congresso no mês passado, através de um novo relatório da Abin. Segundo a Folha, o segundo documento foi entregue à CCAI de forma voluntária pela atual direção da Abin, após um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para obter os informes. Nessa época, Dias já não era mais o chefe do GSI, que estava sob o comando da Casa Civil.
Em uma declaração, o advogado André Callegari, que representa o general, afirmou que não pode conceder entrevistas.