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Se não há um grupo querendo poder, mandará quem assim o deseja. E nesse sentido, é triste a situação brasileira.
Os que se identificam com um desejo de liberdade de expressão e economia de mercado, no Brasil, chamam a si próprios de direita. A maior parte dos que possuem esse sentimento não estão em grupos, não possuem formação intelectual acima da média de países civilizados, e ouso dizer que não sabem dizer o que realmente desejam, expressando-se de modo confuso e repletos de chavões acabam por querer uma coisa e falar outra, como é o caso de muitos que sonham com o dia que não terão de manter a máquina estatal, embora fiquem com insônia só de pensar em um país sem o SUS, sem o FGTS, sem a CLT. A coisa é quase esquizofrênica. O medo de reconhecer a insanidade é tanto que acabam por falar coisas que nem crianças bem educadas acreditariam, como quando dizem o famoso “mas se o imposto ainda retornasse…”. Como se existisse algum lugar no mundo onde os burocratas devolvam o bem dos impostos por amor, não por receio de ser punidos rigorosamente.
A palavra poder foi tão mal utilizada no Brasil que é comum ver políticos se orgulharem de não a querer. É o famoso “os comunistas têm um projeto de poder, nós não”. Ora, se os comunistas têm um projeto de poder, prevalecerá o deles, já que a direita não quer ter poder.
O projeto de poder esquerdista, embora precise matar, prender, calar, censurar etc., não é um projeto que nasce no mesquinho desejo de roubar o erário e dividir a fortuna entre os membros. Isso é o que faz o centrão, que é o que faria um grupo de ladrões de galinha se tivessem a chance de se organizar com a complexidade que faz o centrão mesmo. Na verdade, a diferença do político de “centro” e o ladrão de galinha é o terno e o coeficiente de moralidade, resquício civilizatório que o político de centro perdeu por completo, enquanto o ladrãozinho de galinha ainda possui, mesmo que seja em menor quantidade que a média da população.
Para ser justo, os políticos de direita têm um projeto de poder. O poder pessoal. Se ainda fossem um pouquinho mais audaciosos já teriam pensado em alguma coisa melhor do que só ter mais um dinheirinho na conta. Por isso que todo tipo de análise que sai da boca deles é limitado em ciclos eleitorais. Sem o dinheirinho que recebem, nada é possível. São incapazes de imaginar um projeto de poder mais abrangente do que empregar uma dúzia de amigos na máquina estatal.
É daí que muitos odiavam o Prof. Olavo de Carvalho: ele não queria nenhum carguinho. O que não quer dizer que não tinha um projeto de poder. O problema é que o projeto de poder do filósofo e escritor Olavo de Carvalho era intelectual. Ele queria ser absorvido no Logos Divino feito Carne e por meio dELE, levar mais e mais pessoas à DEUS. Sobre esse aspecto, falarei em outro momento.
Voltando ao tema, é visível que grupos minúsculos têm projeto de poder: o grupo gayzista tem, os “Sem-terra” têm, o sindicato dos professores tem, todo revolucionário pertence a um grupo que tem um projeto de poder. O êxito desses grupos advém da completa ausência de adversários. Não há quem se oponha de fato. E é isso que significa verdadeiramente a palavra oposição. Quem não tem projeto de poder são os cristãos, os pais de família, os pacíficos, enfim, a “direita”. E a razão é simples: não querem pois não sabem o que desejam.
Para pensar um projeto de poder, é preciso saber o que é poder, mas é quase unânime entre os direitistas a idéia dominante de não querer ter poder. Depois reclamam que foram enrabados por aceitar uma suruba. Quem diria, não é?
Enquanto essa mentalidade tacanha permanecer, só quem terá sucesso na empreitada serão os canalhas revolucionários que agem dentro do próprio projeto e ainda conseguem engolir os projetos dos medíocres políticos de centro.
Se um projeto de poder precisa ser pensado, é necessário afirmar que todo direitista que tem ojeriza ao estudo é ou um imbecil, ou paciente psiquiátrico. A frase “não temos mais tempo” é um bom sinal disso. Só incultos e doentes mentais acham que a coisa mais importante a se fazer agora é agir sem pensar.
Se alguém deseja ver o projeto de poder do Foro de São Paulo diminuir, que comece para ontem a pensar em concorrer com os comunistas. Do contrário, a população irá comprar o único produto da prateleira.