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Pobreza e grossura
Entre as causas culturais da pobreza, a principal não está nos pobres: está na falta de educação dos outros.
March 11, 2023
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Olavo de Carvalho

Bravo!, julho de 2000

Neste país você não pode pedir emprego e muito menos dinheiro emprestado a um conhecido sem que ele instantaneamente assuma ares paternais e comece a lhe dar conselhos, a ralhar com você chamando-o de irresponsável, leviano e miolo-mole. E dê graças a Deus de que ele o faça em tom bonachão e não transforme a humilhação sutil em massacre ostensivo. Finda a cena, ele sai todo satisfeito com a consciência do dever cumprido e considera-se dispensado de lhe arranjar o emprego ou o dinheiro. E você? Bem, você sai duro, desempregado… e culpado.

Esse mesmo sujeito é capaz de, na mesma noite, oferecer um jantar tomando o máximo cuidado para que a arrumação da mesa e a distribuição dos convidados obedeçam estritamente às regras da mais fina etiqueta.

Um indício seguro de barbarismo num povo é a atenção excessiva concedida aos sinais convencionais de boa educação e o desprezo ou ignorância dos princípios básicos da convivência que constituem a essência mesma da boa educação.

O bárbaro, o selvagem, pode decorar as regras e imitá-las na frente de quem ele acha que liga para elas. Mas não capta o espírito delas, não percebe que são apenas uma cartilha de solicitude, de atenção, de bondade, que pode ser abandonada tão logo a gente aprendeu o verdadeiro sentido do que é ser solícito, atencioso e bom.

Meu pai era um sujeito relaxado, que às vezes ia de pijama receber as visitas. Mas ele chamava de “senhor” cada mendigo que o abordava na rua, e sem que ele me dissesse uma palavra aprendi que o homem em dificuldades necessitava de mais demonstrações de respeito do que as pessoas em situação normal. Quanto mais respeitoso, mais cuidadoso, mais escrupuloso cada um não deveria ser então com um amigo que, vencendo a natural resistência de mostrar inferioridade, vem lhe pedir ajuda! Esta regra elementar é sistematicamente ignorada entre as nossas classes médias e altas, principalmente por aquelas pessoas que se imaginam as mais cultas, as mais civilizadas e – valha-me Deus! – as mais amigas dos pobres.

Fico horrorizado quando vejo alguém enxotar um flanelinha como se fosse um cachorro, e nunca vi alguém fazê-lo com a desenvoltura, o aplomb, a consciência tranqüila de um intelectual de esquerda! Nos anos 60, corria o dito de que ajudar os pobres individualmente era “alienação burguesa”, ópio sentimental, sucedâneo da revolução salvadora. Passaram-se quarenta anos, a revolução salvadora não veio (onde veio, os pobres ficaram mais pobres ainda) e duas gerações de necessitados apertaram ainda mais os cintos em homenagem à prioridade da revolução. Mas não conheço um só militante comunista do meu tempo e do meu meio que não esteja com a vida ganha, que não ostente como um sinal de maturidade triunfante a segurança financeira adquirida graças ao apadrinhamento da máfia política que, até hoje, domina o mercado de empregos na imprensa, na publicidade, no ensino superior e no mundo editorial.

Hoje não precisam mais do pretexto revolucionário para enxotar flanelinhas. Seu discurso tornou-se palavra oficial, as prefeituras e governos estaduais nos advertem, em cartazes piedosos, para não dar esmolas. Sim, a caridade individual está em baixa. Os frutos da bondade humana não devem ir direto para o bolso do necessitado: devem ir para as ONGs e os órgãos públicos, sustentando funcionários e diretores, financiando movimentos políticos, pagando despesas de aluguel, administração, publicidade e transporte, para no fim, bem no fim, se sobrar alguma coisa, virar sopa dos pobres, diante das câmeras, para a glória de São Betinho.

Há quem neste país tenha nojo da corrupção oficial. Pois eu tenho é da caridade oficial.

Ainda há quem diga: “Mas se você dá dinheiro o sujeito vai beber na primeira esquina!” Pois que beba! Tão logo ele o embolsou, o dinheiro é dele. Vocês querem educar o pobre “para a cidadania” e começam por lhe negar o direito de gastar o próprio dinheiro como bem entenda? Querem educá-lo sem primeiro respeitá-lo como um cidadão livre que atormentado pela miséria tem o direito de encher a cara tanto quanto o faria, mutatis mutandis, um banqueiro falido? Querem educá-lo impingindo-lhe a mentira humilhante de que sua pobreza é uma espécie de menoridade, de inferioridade biológica que o incapacita para administrar os três ou quatro reais que lhe deram de esmola? Não! Se querem educá-lo, comecem pelo mais óbvio: sejam educados. Digam “senhor”, “senhora”, perguntem onde mora, se o dinheiro que lhes deram basta para chegar lá, se precisa de um sanduíche, de um remédio, de uma amizade. Façam isso todos os dias e em três meses verão esse homem, essa mulher, erguer-se da condição miserável, endireitar a espinha, lutar por um emprego, vencer.

Na verdade, a barreira que impede o acesso de pobres e mendicantes brasileiros a uma vida melhor é menos econômica que social. Façam um teste. Quanto custa um frango? Assado, com farofa. Cinco reais no máximo, em geral menos. Quer dizer que um mendigo, pedindo esmola em qualquer das grandes capitais do Brasil, pode comer pelo menos um frango por dia, se não dois, e ainda lhe sobra o dinheiro da condução. Para você fazer uma idéia de quanto um país onde isso é possível é um país rico e generoso, tente esta comparação. Quando Franklin D. Roosevelt lançou o New Deal, um dos objetivos principais do ambicioso plano econômico foi assim anunciado pelo rádio: “Assegurar que cada família deste país tenha em sua mesa um frango por semana.” Ouviram bem? Um frango por semana para quatro ou cinco pessoas. Na época pareceu um ideal quase utópico. Pois bem: estamos numa terra onde velhas desamparadas que se arrastam pelas ruas comem um frango por dia, onde os meninos de rua pedem esmola em frente ao McDonald’s para completar o preço de um BigMac com fritas de três em três horas, onde os bebês famintos exibidos pelas mães em prantos usam fraldas descartáveis, onde as casas dos bairros miseráveis têm antenas parabólicas e os catadores de lixo se comunicam com seus sócios por telefones celulares.

Em contrapartida, façam outro teste: peguem um sujeito sujo e esfarrapado, encham-no de dinheiro e façam-no entrar numa loja de roupas – não digo uma loja elegante, mas qualquer uma — para comprar um terno. Será enxotado. E, se gritar: “Eu tenho dinheiro!”, vai terminar na polícia, com holofote na cara, tendo de se explicar muito bem explicadinho, isto se não for obrigado a escorregar “algum” para a mão do sargento.

O mesmo pobre que pode comer um frango por dia tem de comê-lo na calçada, com os cães, porque não tem acesso aos lugares reservados aos seres humanos. Está certo que você, gerente do restaurante, fique constrangido de botar um sujeito estropiado e fedido no meio dos seus clientes distintos. Mas não vê que mandá-lo comer na rua é mais falta de educação ainda? Pelo menos dê-lhe de comer num cantinho discreto, converse com ele sobre as dificuldades da vida, ofereça-lhe uma camisa, uma calça. Seja educado, caramba! Pois se você, que está bem empregado e bem vestido, tem o direito de ser grosso, que primores de polidez pode esperar do pobre? Se um dia, cansado de levar chutes, ele o manda tomar naquele lugar, não se pode dizer que esteja privado do senso das proporções. E não me venha com aquela história de “Se eu tratar bem um só mendigo, no dia seguinte haverá uma fila deles na minha porta”. Isso pode ser verdade em casos isolados, mas não no cômputo final: se todos os restaurantes tratarem bem os mendigos, logo haverá mais restaurantes que mendigos. Conte os mendigos e os restaurantes da Avenida Atlântica e diga se não tenho razão. Isto sem que entrem no cálculo os bares e padarias.

O brasileiro de classe média e alta está virando uma gente estúpida que clama contra a miséria no meio da abundância porque cada um não quer usar seus recursos para aliviar a desgraça de quem está ao seu alcance, e todos ficam esperando a solução mágica que, num relance, mudará o quadro geral. Sofrem de platonismo à outrance: crêem na existência de um geral em si, dotado de substância metafísica própria, independente dos casos particulares que o compõem.

Por isso é que quando a propaganda do Collor inventou aquela coisa de “Não votem em Lula porque ele vai obrigar cada família de classe alta a adotar um menino de rua”, eu me disse a mim mesmo: “Raios, se isso fosse verdade eu ficaria satisfeito de votar no Lula.” Só acredito é em gente ajudar gente, uma por uma, não na mágica platônica das “mudanças estruturais”, pretexto de revoluções e matanças que resultam sempre em mais pobreza ainda.

Na verdade, quem acredita nelas erra até ao dar nome ao problema geral. Quando, revoltados ante a desgraça do povo brasileiro, gritamos: “Fome!”, algo está falhando na nossa percepção da realidade social. No mais das vezes, o que falta não é comida, não é dinheiro: é as pessoas compreenderem que a pobreza não é um estigma, não é uma desonra, é uma coisa que pode acontecer a qualquer um e da qual ninguém se liberta só com dinheiro, sem o reforço psicológico de um ambiente que o ajude a sentir-se novamente normal e, em suma, um membro da espécie humana.

Entre as causas culturais da pobreza, a principal não está nos pobres: está na falta de educação dos outros.

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Edição XCII de 22 de Abril de 2024.
Boa noite, e boa leitura!
https://tempodeleiturablog.blogspot.com/2024/04/edicao-xcii-terca-livre-opiniao-do.html

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Um olhar aprofundado no fundador de um país livre
O último signatário vivo da Declaração de Independência, Charles Carroll assumiu o papel de republicano e revolucionário conservador, representando em sua velhice o fim de um período na história.

O último dos signatários americanos da Declaração de Independência a partir deste mundo, Charles Carroll de Carroll também foi um dos fundadores americanos mais formalmente educados. Vivendo dezessete anos na França e na Inglaterra, Carroll obteve seu B.A. em artes liberais tradicionais e um M.A. em filosofia. Ele também estudou direito civil na França e direito comum na Inglaterra. Imigrantes irlandeses para as colônias americanas inglesas, os Carrolls sofreram nas mãos de intolerantes anticatólicos em Maryland por três gerações. Quando Charles Carroll de Carrollton veio ao mundo, seus pais permaneceram solteiros por causa da lei, e escolheram enviar seu único filho para viver na França. Se o tivessem educado em Maryland, as autoridades tinham a sanção legal para remover crianças — ensinadas de uma “maneira católica” — dos pais e colocá-las permanentemente com protestantes ingleses. Embora a América tenha herdado o título de “terra da liberdade”, suas treze colônias inglesas estavam longe de ser tolerantes. Mais do que qualquer outra colônia, Maryland promoveu a tolerância religiosa por quase três décadas do século XVII, mas um golpe em nome de William e Mary em 1689 encerrou isso por quase um século. Maryland passou de ser uma das sociedades mais tolerantes do mundo para uma das menos tolerantes quase da noite para o dia.

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Ex-diplomata dos EUA acusado de espionar para Cuba por mais de 40 anos
Procurador-Geral alega "uma das infiltrações mais altas e duradouras" do governo dos EUA por um agente estrangeiro

O governo dos EUA acusou um ex-diplomata que serviu no conselho de segurança nacional nos anos 1990 de servir secretamente como agente do governo de Cuba por mais de 40 anos. Victor Manuel Rocha foi preso na sexta-feira, após uma longa investigação de contrainteligência do FBI.

O embaixador dos EUA na Bolívia de 2000 a 2002, Rocha também trabalhou no conselho de segurança nacional de 1994 a 1995. Ele é acusado de cometer vários crimes federais.

"Esta ação expõe uma das infiltrações mais altas e duradouras do governo dos Estados Unidos por um agente estrangeiro", disse o procurador-geral, Merrick Garland. "Alegamos que por mais de 40 anos, Victor Manuel Rocha serviu como agente do governo cubano e buscou e obteve posições dentro do governo dos Estados Unidos que lhe proporcionariam acesso a informações não públicas e a capacidade de afetar a política externa dos EUA".

Rocha, de 73 anos, foi preso em Miami na sexta-feira. A lei federal exige que pessoas que fazem o trabalho político de um governo ou entidade estrangeira dentro dos EUA se registrem no departamento de justiça, que nos últimos anos intensificou sua aplicação criminal de lobby estrangeiro ilícito.

A carreira diplomática de 25 anos de Rocha foi realizada sob administrações democratas e republicanas, grande parte dela na América Latina durante a guerra fria, um período de políticas políticas e militares às vezes pesadas dos EUA.

Suas designações diplomáticas incluíram um período na seção de interesses dos EUA em Cuba, durante um tempo em que os EUA não tinham relações diplomáticas plenas com o governo comunista de Fidel Castro. Nascido na Colômbia, Rocha foi criado em uma casa de classe trabalhadora na cidade de Nova York e obteve diplomas de artes liberais em Yale, Harvard e Georgetown.

O governo alegou que Rocha conseguiu posições no departamento de estado a partir de 1981 para lhe dar acesso a informações não públicas, incluindo informações classificadas, e a capacidade de afetar a política externa dos EUA. Diz que de aproximadamente 2006 a 2012, Rocha foi assessor do comandante do Comando Sul dos EUA, um comando conjunto das forças armadas dos Estados Unidos cuja área de responsabilidade inclui Cuba. Acrescenta que, além de fornecer informações enganosas aos EUA para manter seu segredo, ele frequentemente deixava os EUA para se encontrar com operativos de inteligência cubanos e mentia para obter documentos de viagem. Diz que Rocha aparentemente admitiu ser um espião para um agente disfarçado do FBI em reuniões no ano passado e este ano. O agente, posando como um representante da Direção Geral de Inteligência de Cuba, ouviu Rocha admitir "décadas" de trabalho para Cuba. Rocha supostamente continuou se referindo aos EUA como "o inimigo" e usou o termo "nós" para descrever a si mesmo e a Cuba, elogiou Fidel Castro como o "Comandante" e referiu-se aos seus contatos na inteligência cubana como seus "compañeros" (camaradas), segundo a declaração do governo dos EUA.

Rocha foi o principal diplomata dos EUA na Argentina entre 1997 e 2000, justamente quando um programa de estabilização da moeda de uma década apoiado por Washington estava se desfazendo sob o peso de uma enorme dívida externa e crescimento estagnado, desencadeando uma crise política que veria o país sul-americano passar por cinco presidentes em duas semanas. Em seu próximo posto como embaixador na Bolívia, ele interveio diretamente na corrida presidencial de 2002, advertindo semanas antes da votação que os EUA cortariam a assistência ao país sul-americano em dificuldades se fosse eleger o ex-cultivador de coca Evo Morales.

"Quero lembrar o eleitorado boliviano que, se votarem naqueles que querem que a Bolívia volte a exportar cocaína, isso colocará em sério risco qualquer ajuda futura dos Estados Unidos à Bolívia", disse Rocha em um discurso amplamente interpretado como uma tentativa de sustentar a dominação dos EUA na região. Três anos depois, os bolivianos elegeram Morales de qualquer maneira e o líder esquerdista expulsaria o sucessor de Rocha como chefe da missão diplomática por incitar a "guerra civil". Rocha também serviu na Itália, Honduras, México e República Dominicana, e trabalhou como especialista em América Latina para o conselho de segurança nacional.

Nos últimos anos, ele ocupou vários cargos no setor empresarial: como presidente de uma mina de ouro na República Dominicana e cargos seniores em uma exportadora de carvão da Pensilvânia, uma empresa formada para facilitar fusões na indústria de cannabis, um escritório de advocacia e uma empresa espanhola de relações públicas.

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PF descobre elo 'financeiro' do PCC e do CV dentro da PGR

Estadão - 11/12/2023

Além de mirar integrantes do PCC e do Comando Vermelho, a Operação Dakovo - investigação da Polícia Federal sobre poderoso esquema de tráfico internacional de armas - tem como alvo um servidor do Ministério Público Federal, lotado na cúpula da instituição, a Procuradoria-Geral da República. Analista processual, Wagner Vinicius de Oliveira Miranda é apontado como suposto integrante do 'núcleo financeiro' da quadrilha desbaratada na Operação Dakovo.

Os investigadores se debruçam sobre supostas operações entre uma companhia do qual o servidor do MPF é sócio e uma empresa cujas contas são usadas para recebimento de pagamentos de armas e drogas - a qual é controlada por Angel Antonio Flecha Barrios, apontado como intermediário da quadrilha que atuava na fronteira do Brasil com o Paraguai, abastecendo as principais facções brasileiras com pistolas, fuzis e munições de grosso calibre, arsenal que seria usado para 'enfrentamento'.

A Justiça Federal da Bahia determinou que a Polícia Federal vasculhasse a casa de Wagner no bojo da fase ostensiva da Operação, aberta na terça-feira, 5. Também foi decretado o afastamento cautelar de Wagner da PGR por 30 dias, com a suspensão de acesso a sistemas internos ou externos que ele tenha em razão do cargo que ocupa.

A Justiça entendeu que a medida era necessária uma vez que, enquanto servidor lotado na PGR, Wagner possuía 'livre acesso a sistemas e dados internos, podendo, eventualmente, acessar informações sensíveis relacionadas à operação'.

A Justiça levou em consideração o fato de Wagner possuir cadastro ativo nos sistemas do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, como servidor do MPF, 'de modo que tem acesso a todos os processos, inclusive aqueles classificados com sigilo'.

Wagner é listado como integrante de um grupo de pessoas que 'figuram nos comprovantes de depósitos e que permitiram o uso de suas contas bancárias para o recebimento de pagamentos de armas e drogas por parte de criminosos no Paraguai'.

Ele passou a ser investigado após a PF encontrar seu nome em meio à análise de dados de Angel Antonio Flecha Barrios, responsável por repassar armas ilegais importadas da Europa para as duas maiores facções brasileiras, PCC e Comando Vermelho.

Segundo os investigadores, Angel é um dos expoentes do núcleo de intermediários da quadrilha - 'os que realizam o contato com os compradores, transportam os carregamentos de armas e drogas, conforme a oportunidade e conveniência, e operam a internalização das armas em território nacional, via fronteira entre Brasil e Paraguai'.

A PF apura o envolvimento de Wagner com uma suposta operação financeira ligada a Angel. O servidor do MPF é sócio de duas empresas: a Steak House Restaurante e a Bravoshop plataformas de vendas online. Esta última, segundo a PF, seria uma empresa de fachada. Um outro sócio foi identificado como Raimundo Nascimento Pereira.

A PF apurou que Raimundo consta como sócio da empresa Bravo Brasil - 'sem empregados registrados e sem funcionamento no endereço constante nos seus registros cadastrais'. Tanto a Bravo Brasil como a Bravoshop têm o mesmo e-mail e telefone no cadastro e foram abertas no mesmo dia.

Tais informações se tornaram relevantes quando a PF analisou as informações guardadas na nuvem de Angel. Os investigadores encontraram uma conversa entre o intermediário e um certo 'Hevert', tratando sobre tráfico de armas e de drogas (maconha e cocaína) e substâncias químicas utilizadas na preparação de ketamina e anfetamina.

Entre 12 e 19 de julho de 2022, 'Hevert' enviou na conversa três comprovantes bancários com transferências que totalizam R$ 53.000 da conta da Bravo Brasil - Iphones Ltda para as contas da DDM Aviação Ltda e David Carlos Ferreira Ltda, usadas por Angel.

A DDM Aviação é uma empresa cujas contas são utilizadas para recebimento de pagamentos de armas e/ou drogas (que são internalizadas ilicitamente no Brasil) por parte de criminosos no Paraguai, diz a PF.

A corporação apontou, ainda, a informação de Relatório de Inteligência Financeira envolvendo as remessas de R$ 100 mil e R$ 50 mil de Wagner para a Bravo Brasil - Iphones, nos dias 20 de julho e 24 de outubro de 2022, referente a depósitos em dinheiro, e comunicadas por suspeita de lavagem de dinheiro.

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